Intercâmbio no Rio de Janeiro, Brasil: uma experiência de crescimento pessoal e científico
Mamadou GningGraduando em Engenharia Civil na UFF, através do Programa de
Estudantes – Convênio de Graduação (PEC-G), originário do Senegal.
Para conseguir alcançar este desafio, participei de uma seleção para concorrer a uma das vagas em Instituições de Ensino Superior (IES) do Brasil, disponibilizadas pelo Ministério da Educação (MEC) junto com o Ministério das Relações Exteriores (MRE) do Brasil, na qual fui aprovado.
Após a publicação dos resultados finais, fui informado de que eu estudaria língua portuguesa em oito meses na Universidade Federal de Rio de Janeiro (UFRJ) antes de ingressar na Universidade Federal Fluminense (UFF), no curso de Engenharia Civil. Logo busquei a documentação necessária para o afastamento do país, bem como o planejamento e custeio da viagem.
Os itens a seguir são um relato sobre a viagem, a cidade maravilhosa e o sistema de transporte do Rio de Janeiro; o estilo de vida e a gastronomia dos cariocas, o intercâmbio e, por fim, o que essa imersão acrescentou em mim no âmbito pessoal, profissional e acadêmico.
A longa viagem
Após os últimos preparativos necessários para o intercâmbio, chegou o tão esperado dia do embarque para o Brasil. O dia das últimas despedidas dos familiares e amigos. Após dez e sete horas e trinta minutos de voo partindo de Dacar (Senegal), com uma escala de duas horas no Marrocos, chegamos ao Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro, por volta das 19h00min do dia 17 de fevereiro de 2017.
A primeira providência necessária foi passar pelo setor de imigração, onde apresentei meu passaporte, um formulário preenchido contendo meus dados e fui interrogado sobre o objetivo da viagem. Tudo isso ocorreu de modo muito tranquilo e rápido. Na saída, três queridos colegas senegaleses estavam me esperando para me levar à casa onde eu deveria ficar por alguns dias antes de achar um lugar definitivo para morar.
A cidade e o sistema de transporte
O fator que mais me motivou a optar pelo Rio de Janeiro foi o fato de ele ser uma cidade multicultural. Então, a curiosidade em conhecê-lo e viver um pouco em outra cultura me atraiu. O Rio de Janeiro é o maior destino turístico internacional do Brasil, da América Latina e de todo o Hemisfério Sul. A capital fluminense é a cidade brasileira mais conhecida no exterior e funciona como um “espelho” ou “retrato” nacional, seja positiva ou negativamente. É a segunda maior metrópole do Brasil (depois de São Paulo), a sexta maior da América e a trigésima quinta do mundo. Sua população estimada pelo IBGE para 1.o de julho de 2020 era de 6.747.815 habitantes.
O sistema público de transporte da cidade se encontra com alguns problemas, porém as autoridades públicas têm pensado em como solucioná-los o mais rápido possível. A grande vantagem de fazer passeios na cidade é o fato de ela ter várias opções de meios de transporte com formas de pagamento simples. Além do ônibus, o transporte mais utilizado, a cidade possui também outros transportes de massa como BRT, metrô, entre outros que ajudam muito na locomoção dos cidadãos, sobretudo nos horários de pico.
O estilo de vida e a gastronomia dos cariocas
Não é novidade para ninguém que o Rio de Janeiro é cheio de paisagens paradisíacas. Além das belas praias, a cidade maravilhosa também conta com belíssimos museus, monumentos, parques e re- servas de Mata Atlântica, onde é possível realizar trilhas, se banhar em quedas de cachoeiras e relaxar junto à natureza.
O Rio tem o prazer de receber sempre bem os estrangeiros. Os cariocas são conhecidos como um povo hospitaleiro e muito acolhedor sendo considerados um dos povos mais alegres do planeta. Se você quiser se misturar e se sentir em casa por aqui, basta fazer amizade com os habitantes. Acredite, não será um exercício difícil.
Uma das coisas que eu mais gosto de fazer nas minhas viagens é experimentar novas comidas e conhecer a diversidade culinária. O Rio de Janeiro também surpreende ainda com os seus pratos típicos. No cardápio carioca encontramos diversas comidas deliciosas. O picadinho de carne acompanhado de cebola e legumes cozidos então… É sagrado! Nós, os amantes de peixes e frutos do mar, não podemos deixar escapar delícias como a sopa Leão Veloso e o bolinho de bacalhau. Além disso, existe uma grande variedade de doces e sorvetes. Também experimentei as bebidas típicas do Brasil, como o guaraná.
O intercâmbio
Há exatamente quatro anos, eu saí do meu querido país para viver uma “aventura brasileira”, viver uma experiência sem igual e enfrentar novos desafios. Chegando ao Brasil, eu era ainda um jovem desesperado, cheio de estresses e incertezas.
A UFRJ, uma universidade respeitosa e renomada, através da sua comunidade acolhedora e os brasileiros de um modo geral me abriram as suas portas com muitas boas-vindas para que eu pudesse me sentir em casa. Mas era óbvio que, diante de várias barreiras como o choque cultural, o português, que eu mal sabia falar uma palavra, o clima, entre outros fatores, havia mudanças com as quais eu precisava lidar o mais rápido possível para seguir em frente.
O domínio do idioma, que é um dos aspectos mais importantes para conseguir abraçar uma nova cultura, deve ser conquistado por meio de uma estratégia eficiente. Na UFRJ, as aulas de Língua Portuguesa aconteciam de segunda a sexta e duravam em média 6 horas por dia. Elas eram bastante dinâmicas e promoviam a integração e troca de informações e experiências entre estudantes de diferentes nacionalidades.
As professoras e monitoras eram ativas e excelentes. Criavam perspectivas de uma maneira didática para conseguir passar o conteúdo aos alunos. Após as aulas, tínhamos um tempo livre para fazer os exercícios propostos para casa. Para me afastar da solidão fora das salas de aula, eu tinha a obrigação de me enturmar com o pessoal, fazer novas amizades e ser mais aberto para, assim, conseguir parceiros na minha jornada.
Além disso, tínhamos tempo suficiente para conhecer a cidade e, nesses momentos, aconteciam infinitas conversas sobre culturas e atualidade com os novos amigos que fizemos, a fim de praticarmos no dia a dia o que aprendemos nas salas de aula. Foi com aqueles esforços somados à ajuda crucial das professoras, monitoras, amigas e amigos que consegui dominar a língua, superar o choque cultural em oito meses e, por fim, passei no exame de proficiência em português, o Celpe-Bras.
Em março de 2018, mudei de cidade (saí da Cidade Universitária mais conhecida como Fundão para vir morar em Niterói), pois era a vez de ingressar na UFF. Foram momentos incríveis de orgulho e curiosidades. Apesar de ter morado no Fundão por um ano, eu me considerava ainda novo nesta terra. Precisava (e preciso ainda) conhecer mais sobre a cultura e costumes. Tinha várias dúvidas e ficava me perguntando “como serão as aulas na UFF? Será que me adaptaria rapidamente nessa nova instituição?”.
As respostas das inúmeras questões vieram a favor do que eu desejava logo no início das aulas. Eu e os colegas da minha turma começamos pelo trote, que era bem divertido e cheio de aprendizado. Dava para enxergar com muita clareza a solidariedade que existe dentro e fora da universidade. Após esta fase, era a vez de começar as aulas. Ficava perdido dentro do campus, mas sempre tinha alguém para me ajudar.
Nas salas de aulas, eu sentia uma enorme alegria por ver os professores ensinando os conteúdos das matérias com muita clareza e carinho. Por conta das discussões frutíferas, os almoços e jantares com os amigos no restaurante universitário nunca se resumiam a uma simples refeição. Cheguei à conclusão de que a UFF vai além de uma simples universidade federal. Ela é também uma família, um lar cuja comunidade forma uma unidade fraternal.
Novas perspectivas pessoais, profissionais e acadêmicas
Viver uma experiência internacional é uma excelente oportunidade de expandir horizontes pessoais, acadêmicos e profissionais. Fora do meu país, eu continuo vivenciando inúmeras situações que estão mudando cada vez mais a minha maneira de enxergar o mundo, ampliando os meus limites e fazendo com que eu amadureça meus conceitos sobre responsabilidade.
Ao passar a enxergar o mundo como um cidadão global, eu também aprendi a lidar com a diversidade cultural para conseguir agir com mais maturidade, características extremamente valorizadas no âmbito profissional. Além disso, o intercâmbio está me tornando cada vez mais poliglota, pois além do francês, que é a minha língua nativa, aprendi o português e aprimorei o meu inglês.
É uma experiência fora do comum a que estou vivendo. Eu lido com pessoas de nacionalidades diferentes e aprendi a trabalhar muito bem com elas. Sempre fui um pouco introvertido e por meio dessa experiência, passei a lidar melhor com o público.
Considerações finais
Adorei cada parte que eu conheci do Rio de Janeiro e fiquei apaixonado por tanta coisa bonita para ver e viver. Até agora são quatro anos de aventuras ricas de aprendizados que me impactaram positivamente em termos de conhecimento e amadurecimento, tanto profissional como pessoal. Uma experiência de vida que me fez pensar em quão grande é o mundo e que devemos conhecê-lo e aprender com ele e buscar referências que nos ajudem a melhorar o nosso dia a dia.