Do princípio de um sonho ao começo de uma nova realidade

Michelle Amairani Jarillo Fuentes

Graduada em Turismo pela Universidad Autónoma del Estado de Hidalgo (México).
Foi intercambista na UFF em 2018.

Meu nome é Michelle Jarillo, sou formada em Turismo pela Universidad Autónoma del Estado de Hidalgo, México. Atualmente sou administradora de maneira virtual de uma casa de férias, localizada no estado de Veracruz, México, chamada La casa de Jarillo, além de trabalhar presencialmente como assistente administrativa em um escritório de venda de seguros, na cidade de Tulancingo no estado de Hidalgo, México. No ano de 2018, tive a oportunidade de fazer o meu intercâmbio acadêmico na Universidade Federal Fluminense, na faculdade de Turismo e Hotelaria, Campus Gragoatá por dois períodos. Aquela experiência foi o primeiro contacto que eu tive fora de meu país. E com certeza a melhor decisão que eu já tomei.

Em um princípio, eu achava que fazer intercâmbio fosse a meta final: o esforço constante de manter boas notas, aprender mais de uma língua e juntar o dinheiro suficiente para poder arcar com a manutenção. Mas, quando se aceita o desafio de fazer intercâmbio, nunca se está completamente preparado para tudo o que acontecerá.

Nada nesse processo é fácil, tudo requer esforço, tempo, dinheiro e muita, muita paciência; desde o preenchimento dos formatos das universidades até as reservas dos voos ou as entrevistas para obter o visto para viajar. Mesmo assim, cada um desses pequenos grandes esforços valem a pena. Contudo, é só a parte visível desse iceberg chamado intercâmbio, já que uma vez que você pega seu voo é quando começa a sua aventura, quando tudo o que ninguém fala que vai acontecer durante a sua estância em outro país acontece.

Em primeiro lugar, eu gostaria de falar das diferenças e similitudes socioculturais que eu achei entre o México e o Brasil. Depois, sobre o Programa de Apadrinhamento da Secretaria de Relações Exteriores da Universidade Federal Fluminense e de como esse programa é um grande distingo que tem essa instituição. Logo a seguir, falarei da convivência que eu tive com outros estrangeiros e brasileiros dentro e fora da Universidade Federal Fluminense. E por último eu falarei sobre como o intercâmbio tem me ajudado na minha vida pessoal e profissional.

Diferenças e similitudes socioculturais entre o México e o Brasil

A língua

Vamos começar com a maior diferença que se tem entre os dois países: a língua. No México, a língua mais falada é o Espanhol já seja como língua materna ou como segunda língua. No Brasil, por outro lado, a língua oficial é o Português. Mesmo quando as duas línguas têm suas origens no latim, existem muitas palavras que têm em comum. Chegar do México para o Brasil sem nenhum conhecimento prévio da língua portuguesa foi todo um desafio.

No princípio, eu não conseguia entender o que as pessoas falavam para mim, o ritmo com que elas falavam e ainda quando eu conseguia entender algumas palavras algumas vezes tendo o mesmo som em espanhol que em português não tinham o mesmo senso nem em uma língua nem em outra.

Aprender outra língua é com certeza a parte que mais trabalho tem me custado, mas é uma experiência inigualável quando você logra manter a sua primeira conversa com algum nativo numa língua que não é a sua.

 

A comida

Outra grande diferença que tem México e Brasil é a comida, se bem que tem muitos ingredientes que a comida latino-americana compartilha como a batata, o feijão, a abobrinha, o milho, o arroz que são parte fundamental da comida diária, tanto no Brasil como no México, o jeito de ser preparadas as comidas é bem diferente.

Uma das primeiras coisas que um intercambista faz, na hora de morar noutro país, é julgar a comida. Alguns falam que outras comidas não são tão boas ou tão gostosas como as próprias, mas pessoalmente eu acho que não é isso não. A história da culinária é diferente em cada país, em cada estado, em cada região e inclusive em cada cidade, dependendo de muitos fatores como o clima, as culturas locais, os recursos que se tem, o que tem chegando com os imigrantes que agora moram lá; todos fatores que fazem parte da riqueza cultural de cada lugar, então, eu não acho que esteja certo falar que uma comida é melhor do que outra. Eu acredito que cada uma tem uma mistura de misticismo e tradição e, que para poder entendê-las, se tem que ter uma mente aberta a experimentar novas experiências, novos sabores, novas cores, novos cheiros, que te vão deixar entender a magia de cada comida.

 

A paixão pelo futebol

A última diferença sociocultural da qual vou falar é a paixão pelo futebol. Eu comecei meu intercâmbio em 2018, ano no qual também aconteceu o Mundial de Futebol, na Rússia, eu não sou fã do futebol, mas no meu país, a paixão futebolística existe. Lembro-me que sempre que acontecia algum evento tão importante assim como os mundiais, nas escolas meias e elementares, desejavam os alunos assistir aos jogos do México e às finais, mas depois disso tudo voltava ao normal. Nas universidades, não acontecia nada não, a maioria dos professores não parava as atividades pelos jogos; os alunos continuavam com as aulas normais. Nas cidades grandes, as pessoas se juntavam perto de monumentos nacionais e festejavam quando o México ganhava, mas no Brasil, os jogos são tomados com muita seriedade. As ruas vazias na hora das partidas, tudo fechado com exceção das lanchonetes, bares e restaurantes que ficavam cheios de pessoas assistindo às partidas pela televisão, o transporte público parado, a maioria das aulas canceladas. Na Praça Mauá, no Rio de Janeiro, uma tela gigante e um cenário eram colocados um dia antes de cada partida do Brasil, e diversos artistas se apresentavam para amenizar o ambiente, antes dos jogos e para festejar as vitórias ou para amenizar as derrotas. Sem dúvida, uma experiência maravilhosa por completo.

Programa de Apadrinhamento

A Universidade Federal Fluminense brinda os intercambistas com uma oportunidade que não há em muitas outras universidades; o assessoramento por parte de alunos voluntários, no programa de apadrinhamento melhor conhecido como PAI, pelo qual universitários de distintas faculdades e bacharéis são selecionados para dar apoio como o primeiro contacto dos intercambistas.

Alguns meses antes da chegada dos novos alunos internacionais, o pessoal da secretaria de relações exteriores contacta os intercambistas e os alunos; criam alguns meios de contacto como grupos de Facebook para eles se apresentarem, e mandam por e-mail o número de telefone e o correio dos “padrinhos para os afilhados” e vice-versa para eles se contatarem diretamente. De esse contato direto, surgem muitas oportunidades de interação entre os padrinhos e os afilhados. Alguns dos padrinhos se oferecem para receber seus afilhados no aeroporto, mostrar para eles as faculdades, a cidade, procurar moradia, ajudar eles com a carga acadêmica etc. tudo depende da interação, resposta e interesse de ambas partes.

Chegando ao Brasil, nos primeiros dias das aulas, a Secretaria de Relações Internacionais faz uma reunião onde estão presentes os padrinhos e os intercambistas e onde eles explicam para os intercambistas todos os processos de inscrição para as aulas, os aspectos das permissões, regulamentação, visto, etc. E depois fazem um pequeno lanche para conviver entre todos e se integrar melhor com os intercambistas.

Esse primeiro contacto que a gente faz com a instituição de maneira exitosa não poderia ser possível sem toda a ajuda e o trabalho de cada um dos encarregados da secretaria de relações exteriores. Obrigada a cada um deles por todo o seu esforço.

Convivência com outros estrangeiros e brasileiros dentro e fora da Universidade Federal Fluminense

Como eu falei anteriormente, o fato de ter o Programa de Apadrinhamento é de muita ajuda para os intercambistas; pois além de organizar diversas atividades sociais e recreativas ao longo do período, criam laços de amizade que transcendem fronteiras, aliás, a vantagem que eu tive para conviver melhor com outros intercambistas e que eu não fui a única intercambista na República onde eu estava morando.

Durante dois períodos que eu morei lá, tive uma maior aproximação com outras culturas, por meio da interação diária com outros estrangeiros, mas como tudo na hora da convivência se tem coisas boas e ruins, hábitos de outras pessoas que se tem em comum e alguns outros que são diferentes, mas que um tem que aprender a tolerar por respeito e empatia com os outros.

Por outro lado, a convivência diária com alunos das turmas nas quais estive inscrita me ajudaram a melhorar meu português, sem embargo foi um pouco mais difícil a aproximação e o relacionamento com os alunos que não formavam parte do grupo do PAI.

Parece-me que isso se deve ao fato de que, muitas vezes, os alunos não achavam o jeito certo para se aproximar para falar comigo, achando que não íamos ter afinidade, que eu não ia querer falar com eles ou, inclusive, alguns outros pela vergonha de tentar falar inglês ou espanhol achando que eu não ia conseguir entender-lhes no português. Mas eu só consegui saber as causas do por que os brasileiros não falavam comigo até meu segundo período de intercâmbio. No princípio, eu achava que era eu a que tinha problemas para me relacionar com os meus companheiros, mas depois de ter falado com alguns outros intercambistas a respeito da minha frustração por não conseguir interagir mais com outros brasileiros, eles me falaram que tinham o mesmo problema com os companheiros deles.

A maioria dos intercambistas que tiveram o mesmo problema do que eu, só estudaram na Universidade Federal Fluminense um período e alguns deles ficaram com o mesmo senso de frustração de querer se relacionar mais com os brasileiros, mas não conseguiram. Mas os intercambistas que ficaram por dois períodos, conseguiram identificar as causas antes mencionadas pelas quais os brasileiros não falavam com a gente. No nosso primeiro período, os brasileiros nos olhavam com muita curiosidade, sempre tentando ajudar mais nunca ficando perto de mais, só conversas simples de alguns minutos para depois ir embora, parecia que nenhum deles tinha vontade de querer nos conhecer. Pelo contrário, no meu segundo período, tinham alunos nas turmas que cursei, que eu tinha olhado antes, que se aproximaram mais, depois de saberem, que eu conseguia compreender a língua deles e depois de ter feito atividades acadêmicas juntos, eles começavam a me incluir nas conversas diárias, nos almoços, nas saídas como amigos, e foi daquele jeito que eu consegui me aproximar dos brasileiros e ajudar os outros intercambistas novos, que tinham aulas em comum comigo a se aproximarem também deles.

Como o intercâmbio tem me ajudado na minha vida pessoal e profissional

Pessoalmente, o intercâmbio me ajudou muito, passei uma transição muito grande. O jeito de eu ir evoluindo, experimentando, me autoavaliando, autoconhecendo e saindo de minha zona de conforto, me fez passar de ser uma pessoa temerosa, desconfiada e insegura a ser mais segura, a desejar trocar coisas no meu entorno, experimentar novas experiências, empreender novos negócios, e seguir interagindo com outras culturas. E me fez ser uma pessoa mais resiliente e tolerante, capaz de se adaptar a novos câmbios.

Profissionalmente, também me permitiu conhecer novos modelos de negócios no setor turístico, me abriu a possibilidade de começar um novo negócio familiar, pois comecei com a ideia de adaptar uma casa que a minha família tem, em uma pequena localidade perto da praia de Tamiahua Veracruz, México, a qual ficava sem uso a maioria do tempo, só gerava gastos e que não podíamos manter mais.

Em primeiro lugar gerei um plano de negócios, seguidamente comecei a alugá-la por meio de plataformas digitais como o Airbnb, depois, por plataformas como WhatsApp, Instagram e Facebook contribuindo não só para gerar dinheiro para a manutenção da casa, também gerando novos empregos para as pessoas do povo onde se encontra. Ainda tem muita coisa que eu quero implementar, que eu desejo e espero conseguir com o passar dos anos, e nada disso seria possível, se eu não tivesse feito meu intercâmbio acadêmico. Obrigada Universidade Federal Fluminense, por me deixar ser parte dessa maravilhosa experiência.

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